Maçambique

O Maçambique de Osório é uma congada gaúcha responsável pela realização de um ritual religioso afro-católico, com o qual a comunidade negra presta as suas homenagens aos santos de devoção católica negra, tais como Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. A expressão dessa devoção ocorre por meio da unidade entre os ritos eclesiais da Igreja Católica e os rituais maçambiqueiros, estes mais por meio da percussão dos tambores, dos cânticos e das danças de matriz africana. As características africanas mantidas pelo Maçambique de Osório prendem-se ao fato de que os reis africanos e seus descendentes são considerados os portadores das tradições e da memória de seus ancestrais, cujas representações e valores vêm sendo reiterados e reinventados em terras brasileiras. No Brasil, eles são representados pelos casais reais do maçambique, do maracatu e dos reis congos.

Os remanescentes de quilombos da comunidade negra de Morro Alto e os integrantes da comunidade afro-descendente e quilombolas urbanos residentes nos municípios de Osório, Maquiné, Terra de Areia e Capão da Canoa, situados no Litoral Norte do Estado, estão ligados por laços de parentesco, de alianças matrimoniais e de compadrio. Eles cultivam, desde os tempos imemoriais, as suas tradições religiosas e culturais. Deste modo, os maçambiqueiros transmitem e atualizam seus valores culturais, sociais, morais e estéticos, durante os festejos da Festa da Nossa Senhora do Rosário (Festa de Maçambique) e também, por ocasião dos Pagamentos de Promessas, em razão de alguma graça alcançada por intercessão da Nossa Senhora do Rosário ou São Benedito. O Maçambique de Osório representa, atualmente, a própria resistência política frente ao racismo e a exclusão social e, ao mesmo tempo, contribui para consolidar afirmativamente os valores da identidade e cultura afro-brasileira.

A Festa da Nossa Senhora do Rosário, também conhecida por Festa de Maçambique, representa uma forte devoção católica negra, bem como uma das mais importantes formas de resistência cultural e política, que é mantida pelos negros da região desde meados do século XIX. A Festa de Nossa Senhora do Rosário é considerada uma das mais antigas do sul do país, bem como um dos patrimônios imateriais da cultura brasileira de matriz africana. O Maçambique de Osório representa uma das mais singulares manifestações das tradições culturais da cidade de Osório, município situado no Litoral Norte do Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil Meridional.

A presidente atual do Maçambique de Osório, a educadora negra Sra. Francisca Dias, que é remanescente do Quilombo de Morro Alto, situado entre os municípios de Osório e Maquiné, no Litoral Norte gaúcho. Sua família, hoje, bem como a de muitos outros maçambiqueiros, reside em Osório, sobretudo nos bairros Caravágio, Primavera e Albatroz, uma vez que foram praticamente expulsos de Morro Alto por conta das pressões exercidas por meio de violências, do poder econômico e da discriminação racial.

A atual presidente da Associação Religiosa e Cultural Maçambique de Osório e filha da Rainha Ginga é quem vem conduzindo a organização do maçambique, ao longo dos últimos dez anos. Ela acompanha e organiza o grupo para participar de eventos culturais, políticos e sociais ligados às manifestações afro-brasileiras. Foi responsável pelo processo conduzido, ao longo dos anos de 2004 e 2005 que culminou com o registro do Estatuto que sedimentou a Associação Religiosa e Cultural Maçambique de Osório, RS.

A congada participou de inúmeros eventos culturais afro-brasileiros, dentre eles da posse dos conselheiros do CODENE (Conselho de Desenvolvimento da Cultura Negra – RS), de encontros de Associações de Quilombolas do Estado do Rio Grande do Sul, de seminários diversos promovidos pela Fundação Cultural Palmares (Encontro de Quilombolas, Seminário sobre Auto-sustentabilidade, etc. O Maçambique participa, anualmente, da Semana Consciência Negra em Osório -RS. Por conta da sua intensa atividade militante e política em defesa do negro e dos seus valores sócio-culturais, a congada obteve proteção do patrimônio histórico-antropológico, conforme a Lei Orgânica Municipal, em seu capítulo da Cultura, artigo 183. Auxiliou na elaboração de documentário audio-visual sobre o Maçambique de Osório, sob os auspícios da Fundação Cultural Palmares. Participa de eventos culturais nos municípios da região como Mostras Fotográfica e Seminários, levando os símbolos do maçambique de Osório e participando das lutas dos católicos negros, pelos direitos quilombolas, combatendo o racismo e contribuído para a afirmação cultural e política do negro gaúcho.

Desta forma, permite um diálogo intercultural, pelo qual ela faz representar as tradições culturais dos negros do Litoral Norte do Estado do Rio Grande do Sul.